sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Testemunho de Jorginho, ex-jogador e auxiliar técnico da seleção brasileira

Àquela altura, os onze brasileiros em campo davam nítidos sinais de cansaço e esgotamento físico. Precisávamos da vitória, mas como virar um jogo numa altitude daquelas? Jogar na Bolívia a mais de 3.500 metros de altura não é nada fácil. Você puxa o ar, mas ele não vem.

Bebeto recebeu a bola perto da grande área e pela característica do lance sabia que iria lançar na ponta. Já estávamos acostumados a fazer aquela jogada no Flamengo: ele atraía a marcação e eu aparecia de surpresa na lateral, recebendo o passe e cruzando nas costas dos zagueiros, pegando a defesa desprevenida. No Maracanã a jogada ensaiada funcionara diversas vezes, mas será que iria acontecer o mesmo na Bolívia, com meu corpo beirando o bagaço de tão cansado?

Respirei fundo, corri e orei. “Senhor, preciso chegar naquela bola”. Bebeto lançou. A bola parecia um coelho veloz, querendo fugir pela linha de fundo. “Senhor, só mais esse pique”, implorei, enquanto corria. Higuita deixou o gol, mas consegui chegar antes e mandei a bola para o fundo da rede. Era o gol de empate do Brasil! Na garra, viramos o marcador, seguramos o resultado e garantimos o título do torneio e a vaga do Brasil para as Olimpíadas de Seul.

De lá para cá, foram tantos jogos, tantas disputas, e tantas viagens, que até perdi as contas. Dou graças a Deus por ter participado de times vencedores, como o Flamengo da era Zico e do Bayern de Munique; além de ter disputado uma Olimpíada e duas Copas do Mundo. Agradeço a Deus por ter podido atuar na Seleção Brasileira, pregando a Sua Palavra por onde passei. Essa Palavra e esse Deus, conheci por meio de verdadeiros milagres em nossa casa.

Nasci no Rio de Janeiro e praticamente não conheci meu pai, que faleceu quando eu era muito novo. O que conheci de perto foram dificuldades e problemas, principalmente aqueles provocados por meu irmão mais velho, Jayme, que era alcoólatra e sempre retornava transtornado, quebrando tudo o que encontrava pela frente. Quando estava embriagado Jayme era portador de uma força descomunal e fazê-lo parar era um verdadeiro teste de resistência física emocional. Quantas madrugadas tristes enfrentamos por causa da bebida. Nossas forças já haviam se esgotado, fazia tempo.

Era como se o placar estivesse dez a zero para o adversário, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. Nada podíamos fazer e nem sabíamos se resistiríamos mais uma noite. Mas Deus podia inverter esse placar.

A primeira intervenção do Senhor foi livrar Jayme da morte, depois de um atropelamento horrível na Avenida Brasil. Nunca esquecerei o dia em que vi o papa-defuntos – aquele carro-geladeira do Instituto Médico Legal – chegando para buscar o corpo de Jayme. Os funcionários da prefeitura ficaram surpresos ao saber que ele ainda estava vivo, já que seus dois amigos haviam falecido na hora, no local do acidente. A segunda veio com a libertação do Jaime do alcoolismo. Uma noite ele chegou para a família e disse: “a partir de hoje, não bebo mais. Jesus me libertou do vício”. De fato, daquele dia em diante, Jayme nunca mais voltou a pôr uma gota de álcool na boca, além de mudar completamente.

Sim, Deus atuara na vida do meu irmão. Como negar tal fato?

E atuou na minha vida também. Naquela época eu treinava a semana inteira e no dia do jogo, minutos antes da partida iniciar, sentia o corpo travar. Não conseguia sequer andar e, daquele jeito, como é que poderia correr atrás de uma bola? Nada havia que me livrasse daquelas dores. No jogo da volta do Zico ao Flamengo, eu estava bem fisicamente e muito disposto para jogar a partida festiva que reunia craques como Maradona, Falcão, Rummenige e Gentile, entre outros grandes nomes do futebol mundial. A Copa do Mundo de 86 se aproximava e aquela era uma grande chance de mostrar serviço. Só que mal peguei na bola, as dores voltaram, o corpo travou, e tive que sair de campo carregado numa maca, chorando bastante. Naquela mesma noite decidi seguir a Jesus Cristo.

Ele transformou minha vida de forma radical: as dores sumiram, para nunca mais voltar! Pude levar minha carreira adiante, com a certeza de que não estava acabado precocemente para o futebol. Estava sim era iniciando uma longa jornada de conquistas e de vitórias, confiando em Jesus Cristo. Eu, que era um bad boy recordista de cartões vermelhos na defesa do Flamengo, encontrei uma paz de espírito tão grande que refletiu no meu estilo de jogar. Como resultado ganhei da FIFA, alguns anos mais tarde o prêmio Fair Play como o jogador mais leal do mundo, por ter jogado quatro temporadas no futebol alemão sem tomar nem um só cartão vermelho.

O testemunho de uma pessoa pode salvar muitos, pois o que Deus operou na minha vida marcou – e muito – os meus familiares. Procure meditar em Atos 9.32-35.

Por Jorge de Amorim Campos

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