"Disse-lhes Jesus: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me" (Marcos 8:34).
A cruz de Cristo é a coisa mais revolucionária que já apareceu entre os homens. Depois que Cristo ressurgiu dos mortos, os apóstolos saíram a pregar a Sua mensagem, e o que pregaram foi a cruz. E por onde quer que fossem pelo mundo, levavam a cruz, e o mesmo poder revolucionário ia com eles. A mensagem radical da cruz transformou Saulo de Tarso e o mudou de perseguidor dos cristãos em um terno crente e um apóstolo da fé. Seu poder transformou homens maus em bons. Sacudiu a longa escravidão do paganismo e alterou completamente toda a perspectiva moral e mental do mundo ocidental.
Fez tudo isso, e continuou a fazê-lo enquanto se lhe permitiu permanecer como fora originalmente, uma cruz. Seu poder se foi quando foi mudado de uma coisa de morte para uma coisa de beleza. Quando os homens fizeram dela um símbolo, penduraram-na nos seus pescoços como ornamento ou fizeram o seu contorno diante dos seus rostos como um sinal mágico para protegê-los do mal, então ela veio a ser, na sua melhor expressão, um fraco emblema, e na pior, um inegável feitiço. Como tal é hoje reverenciada por milhões que não sabem absolutamente nada do seu poder.
A cruz atinge os seus fins destruindo o modelo estabelecido, o da vítima, e criando outro modelo, o seu próprio. Assim, ela tem sempre o seu método. Vence derrotando o seu oponente e lhe impondo a sua vontade. Domina sempre. Nunca se compromete, nunca faz barganhas, nunca faz concessão, nunca cede um ponto por amor da paz. Não se preocupa com a paz; preocupa-se em dar fim à sua oposição tão depressa quanto possível.
Com perfeito conhecimento disso tudo, Cristo disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Assim a cruz não só põe fim à vida de Jesus; termina também a primeira vida, a velha vida, de cada um dos seus seguidores verdadeiros. Ela destrói o velho modelo, o modelo de Adão, na vida do cristão, e lhe dá fim. Então o Deus que levantou a Cristo dos mortos levanta o cristão, e uma nova vida começa.
Isto, e nada menos que isto, é o cristianismo verdadeiro, embora não possamos senão reconhecer a aguda divergência que há entre esta concepção e a sustentada pelo tipo comum de cristãos hoje. Mas não ousamos qualificar nossa posição. A cruz ergue-se muito acima das opiniões dos homens e a essa cruz todas as opiniões terão que vir afinal para julgamento. Uma liderança artificial e mundana gostaria de modificar a cruz para agradar os homens maníacos por entretenimento, que querem divertir-se até mesmo com coisas santas; fazê-lo, porém, é cortejar a tragédia espiritual e arriscar-se à ira do Cordeiro feito Leão.
Temos que fazer alguma coisa quanto à cruz, e só podemos fazer uma destas coisas: fugir ou morrer nela. E se formos tão temerários que fujamos, com esse ato estaremos pondo fora a fé vivida por cristãos no passado e faremos do cristianismo uma coisa diferente do que é. Neste caso, teremos deixado somente o vazio linguajar da salvação; o poder se irá juntamente com a nossa partida para longe da verdadeira cruz.
Se somos sábios, faremos o que Jesus fez: suportaremos a cruz e desprezaremos a sua vergonha pela alegria que está posta diante de nós. Fazer isto é submeter todo o esquema da nossa vida, para ser destruído e reconstruído do poder de uma vida que não se acabará mais. E veremos que é mais que poesia, mais que doce hinologia e elevado sentimento. A cruz cortará fundo as nossas vidas onde fere mais, não nos poupando nem a nós mesmos nem as nossas reputações cultivadas. Ela nos derrotará e porá fim às nossas vidas egoístas. Só então poderemos elevar-nos em plenitude de vida para estabelecer um padrão de vida totalmente novo, livre e cheio de boas obras.
A modificada atitude para com a cruz que vemos na ortodoxia moderna prova, não que Deus mudou, nem que Cristo afrouxou a sua exigência de que levemos a cruz; em vez disto, significa que o cristianismo corrente desviou-se dos padrões do novo testamento. Para tão longe nos desviamos que nada menos que uma nova reforma restabelecerá a cruz em seu lugar certo na teologia e na vida da Igreja.
Por A. W. Tozer