Enquanto digito a conclusão deste livro, meus pensamentos acabaram de
sofrer um novo impacto. Minha esposa e eu voltamos há pouco de uma
viagem de emergência para ver meu pai. Ele está muito doente. Sofre da
doença Lou Gehrig (Esclerose Lateral Amiotrófica), que ataca os músculos
e para a qual não se conhece cura, nem a sua origem. Fomos chamados
para ir vê-lo sem saber se iríamos encontrá-lo vivo ao chegarmos. Mas
ele estava vivo e ainda continua vivendo. "Todavia, embora tivesse
melhorado bastante, nós sabemos (e ele também) que, a não ser pela
intervenção divina, o tempo de sua partida está próximo."
Meu pai é um homem de grande fé. Um professor apto e um líder influente.
Ele jamais deixou qualquer dúvida quanto à sua posição sobre Deus. Suas
primeiras palavras para nós, quando fomos vê-lo na unidade de terapia
intensiva foram: "Estou pronto para ir para o céu. Penso que chegou a
minha hora".
Quando a doença foi diagnosticada, minha mulher e eu nos encontrávamos
nos últimos estágios dos preparativos para trabalhar como missionários
na cidade do Rio de janeiro, no Brasil. Quando soube que meu pai tinha
uma doença terminal, escrevi-lhe oferecendo para mudar meus planos e
ficar com ele. Mas imediatamente me respondeu, dizendo: "Não se preocupe
comigo. Não temo a morte nem a eternidade. Vá... agrade a Ele".
A vida de meu pai é um exemplo de um coração derretido no fogo de Deus,
formado em sua bigorna e usado em sua vinha. Ele sabia e sabe, qual o
propósito de sua vida. Numa sociedade de dúvidas e confusão, a vida dele
sempre foi definida.
Uma passagem pela bigorna de Deus deve fazer isso por nós: esclarecer nossa missão e definir nosso propósito.
Quando uma ferramenta emerge da bigorna do ferreiro, sabe-se
perfeitamente para o que serve. Não há qualquer dúvida sobre a sua
aplicação. Basta olhar para a ferramenta e você sabe na mesma hora qual a
sua função. Se pegar um martelo, sabe que foi feito para bater pregos. A
serra foi feita para cortar madeira. A chave de fenda serve para
apertar parafusos.
Quando um ser humano sai da bigorna de Deus, o mesmo deveria acontecer.
Ao sermos provados por Deus, nos lembramos que nossa função e tarefa é
cuidar dos negócios dele; que nosso propósito é ser uma extensão da sua
natureza, um embaixador de sua corte real e um arauto da sua mensagem.
Devemos sair da oficina sem qualquer indagação sobre o motivo de termos
sido feitos. Conhecemos nosso propósito.
Num mundo de confusão de identidade, de compromissos vacilantes e
futuros incertos, vamos ser firmes em nosso papel. A sociedade precisa
desesperadamente de um grupo de pessoas cuja tarefa seja clara e cuja
determinação seja indiscutível.
Deus não escondeu sua vontade de seu povo. Nosso Mestre não brinca
conosco. Sabemos quem somos. Sabemos para o que fomos feitos. Pode haver
alguma pergunta de vez em quando sobre como e com quem devemos realizar
a sua missão. Mas a verdade subjacente continua a mesma. Somos o povo
de Deus e devemos cuidar dos seus negócios.
Se vivermos deste modo, poderemos, como meu pai, entrar nos últimos anos
com a segurança de saber que a nossa vida foi bem gasta e que o céu
está à nossa espera. Existe recompensa maior que essa?
Por Max Lucado
Do livro "Moldado Por Deus"(Ed. Vida Cristã)